segunda-feira, 20 de abril de 2009

Odeia o teu vizinho

Nunca entendi as grandes relações de amizade que certos amigos afirmam ter com os seus vizinhos.
Como é possível aturar o chilreio dos filhos dos outros a partir das sete da manhã a ouvir
desenhos animados na televisão em volume máximo e a fazer guerras de cereais ou a berrar por uma almofada?
Nunca ninguém passou pelas deliciosas noites em claro a escutar o vizinho de cima a calcorrear de um lado para o outro, certamente numa ressaca de qualquer substancia psicotrópica?
Ou a ouvir a senhora idosa do andar de baixo que ouve telenovelas até desoras e depois escorrega elefantescamente para um profundo sono orquestrado por um roncar que deixaria muitos camionistas a milhas.

Nada como o doce refastelar no som das supremas jantaradas com 78 familiares (dos vizinhos) que aparecem todas as semanas e transformam as imediações num acampamento que, para todos os efeitos, pode ser índio, cigano, berbere, esquimó (o penico não descrimina etnias, só gente insuportável, a quem amorosamente gosta de chamar “sacanas dos vizinhos”).
Ó odores de cheiro a sardinha assada ou churrasco queimado! Ó maravilhosos concursos de karaoke (!) com intervenientes que vão desde as jovens adolescentes a ter sonhos húmidos com o elenco do “High School Musical”, até à bisavó desdentada a ter colites húmidas com o som das netas adolescentes a cantar “High School Musical”.

Numa nota ainda mais pessoal, recentemente ouvi, de uma vizinha, um arrazoado deplorável acerca do facto de não lhe ter aberto a porta, quando ela tocou à minha campainha diversas vezes, “sabendo perfeitamente que (me) encontrava em casa”. Bem... Devo dizer que, para além da senhora em questão ter uma noção muito própria acerca do que é “privacidade”, é uma vizinha muito fácil de execrar: faz churrascos semanais, promove refeições pela tarde e noite fora com a numerosa família adorável, que tão bem canta karaoke em altos berros. O que concorre com um séquito de adoráveis rafeiros que guarda nas traseiras e têm a delicadeza de me brindar com os seus uivos, dia ou noite e acima de tudo tem uma voz, comparável ao som de unhas a arranhar um quadro de ardósia.

Neste penico desejo à dita senhora uma colite muito húmida. Schubert agradece.

2 comentários:

  1. Judas a Cagar no Deserto20 de abril de 2009 às 18:42

    Sorte...eu por vezes tenho de ouvir a minha vizinha quando está com o cio e a sua incomensoravel necessidade de ultrapassar esta situacao com a ajuda dos seus amiginhos amestrados.....so falta mesmo colocar um vinyl e passar o resto da noite a apreciar algo grandioso como "A CAVALGADA DAS VALQUIRIAS" ou mesmo qui ça ligar para o quando o "telefone toca" (sim em letra pequena pois o programa merece) e acabar com o meu fraço ordenado (ordenado digno de um verdadeiro tuga)em cerca de 69 chamadas nas quais não consigo ir para o ar e falar com uma daqueas barbies escolhidas a dedo....ou será escolhidas a......pois esqueçam......vou dormir ....

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  2. Anseio por um novo texto com o mesmo gabarito literário deste. Maravilhoso!

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