terça-feira, 7 de julho de 2009

Que soberbos somos!


Recentemente tive o prazer de ler alguns comentários no Facebook, que me pareceram muito elucidativos sobre uma certa forma de pensar, ou melhor, de reagir ao pensamento de terceiros. Tais pensamentos são da autoria de um chegado amigo meu, que muito prezo e que teve a gentileza de escrever algumas pérolas que passo a citar:


«primeiro são contra as peles, depois são contra a carne, depois o leite tem pus... daqui a pouco temos organizações contra o sexo porque uma pessoa está em contacto com outra e sabe-se lá o que se pode apanhar! E temos que proteger a humanidade! Mas será que esta gente se esquece duma coisa maior que as nossas conscienciazinhas armadas ao cuco? A lei natural???? Dah! Que soberbos somos!»

Será de notar que o tom jocoso e ligeira acrimónia escondem uma verdade enorme: estamos todos fartos de que ponham em causa tudo aquilo em que acreditamos e fomos educados a tomar como sagrado e perene: sejam as simpaticas senhoras velhinhas de casacos de peles, o bife ao jantar, ou o leite ao pequeno-almoço...

É certo que nos últimos 50 anos evoluímos mais nas consciências e pensamento social, talvez fruto da evolução tecnológica, da globalização ou do reconhecimento da dignidade da pessoa humana como valor fundamental e prioridade dogmática indiscutível.

Tal abertura possibilitou-nos encontrar outros meios para manifestar a nossa própria humanidade: através do respeito do meio ambiente, das criaturas que nos rodeiam e do planeta em geral. São passos lentos e seguros, que inicialmente vão ser tomados como agitadores e jacobinos, porventura pelo fervor de alguns activistas mais carismáticos, ou até por ridículos e despropositados, como se infere do comentário do meu excelso amigo. No entanto, da mesma forma que as primeiras mulheres feministas, como a sufragista Sylvia Pankhurst, foram etiquetadas como “histéricas e mal-amadas”, até, actualmente, ser facto assente nas culturas mais evoluídas a igualdade indiscutível da mulher, a quem são reconhecidos os mesmos direitos, como votar, trabalhar, viajar e ter direito a uma existência tão reconhecida como a de qualquer homem.


Certamente noutros tempos, não tão distantes, a clareza e bom senso vigentes obrigariam a que a mulher fosse “recambiada” para casa debaixo de uma chuva de impropérios e murros, para o papel de serviçal do seu marido, caso este não autorizasse a insolência de aquela querer sair à rua sem a sua autorização, muito menos exercer o ser direito de voto!


Como tal, era então considerada a “lei natural”, fruto de milhares de anos de civilização.

Ora, se a “Soberba, (s.f. do latim superbia) é o sentimento negativo caracterizado pela pretensão de superioridade sobre as demais pessoas, levando a manifestações ostensivas de arrogância, por vezes sem fundamento algum em fatos ou variáveis reais.” – é interessante reflectir, sem mais considerandos na ironia da supra citada observação.


Trata-se, pois, de um comentário muito interessante, pelo facto de nele ter a apreciável franqueza de asseverar, com todas as letras, o que pensa das correntes de “respeito pelos animais”. A forma aprimorada como o faz confere-lhe uma peculiar solenidade literária e até estética. Infelizmente, porque se limita somente a uma abordagem em linhas muito sumárias, embora maciças e ricas de reflexão, tenho que afirmar que o seu solilóquio fica-me a saber a pouco. Seria muito mais original se o meu amigo pudesse aprofundar, com maior minúcia, essa sua agrura selectiva contra o não uso das peles, a abstenção de comer carne e o respeito pelos animais em geral.

E quanto às “conscienciazinhas armadas ao cuco”, o cuco é uma ave parasita que põe os ovos no ninho de outras espécies. A natureza indirectamente e por si só, acaba por responder às nossas mais profundas inquietações.

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