quinta-feira, 7 de maio de 2009

Felicidade em cápsulas


Nada melhor que começar o dia com uma boa dose de comprimidinhos da felicidade no bucho, estratégia a que grande parte das pessoas recorre hoje em dia para poder suportar as agruras do dia-a-dia. Em momentos de crise, quando a carteira está vazia ou o "tiqui-ti-coeur" está despedaçado, eis que surgem os nossos melhores amiguinhos enfiados num frasco delicioso para colocar um belo arco-íris no nosso dia, que estava tão cinzento... e, num abrir e fechar de olhos, tudo é belo! Ziguezagueamos pelas ruas de Lisboa, com um sorriso de Mona Lisa nos lábios, e achamos tudo lindo e maravilhoso! Nada pode alterar o nosso estado de espírito! Inventamos uma intoxicação alimentar para nos baldarmos ao trabalho e vamos exibir a nossa felicidade química por esse mundo fora. Ficamos tão balhelhas que até somos capazes de comprar um saco de milho para oferecer a esses animaizinhos simpáticos que outrora apelidávamos de "ratos do ar"! Entramos nas lojas e o Sr. Prozac diz-nos que podemos estoirar todo o nosso dinheirinho, inclusivé aquele que é de plástico e que depois teremos de devolver aos senhores do banco, acrescido de mais uns pequenos números que o vulgo chama de "juros". É tão bom o som do talão a sair daquelas maquinetas! É como uma orquestra bem ensaiada! Melhor ainda é levar para casa meia loja dentro de uns simpáticos invólucros de plástico. De seguida, decidimos entrar num belo restaurante pseudo-finório para encher o bandulho de tudo o que sabe tão bem como faz mal à saúde: uma boa vinhaça, que escolhemos pelo preço com maior número de zeros à direita, um prato de batatas fritas com alheira e ovo a cavalo que os senhores do restaurante chamam de "coconettes de couchon em caminha de pommes de terre polvilhadas de huille de olive e fabergé au chevale" e uma mega-bomba de chocolate chamada "cocochiquése". Saímos do restaurante incrivelmente despreocupados com o preço do pequeno repasto e com o colestrol a sair pelas orelhas. Não passa muito tempo até sentirmos náuseas, suores frios e umas ligeiras cólicas que parecem cortar-nos a barriga ao meio e pensamos "hummm, se calhar é melhor correr para o wc mais próximo". Curiosamente, o estado Zen em que nos encontramos permite-nos encarar esta aventura de forma absolutamente destemida e até relaxada. "Ooops, não deu para aguentar... Dihhhhhhhhh. Provavelmente ninguém deu por nada. Sinto-me tão feliz!". Ok, aqui a situação é grave porque há várias pessoas com um ar verdadeiramente transtornado a correr na direcção contrária à nossa. Mas os nossos verdadeiros amigos (o Lorenin, o Xanax e o Vallium) nunca nos abandonam, nem nos momentos mais merdosos. Pelo sim, pelo não, é melhor voltar para casa porque ser feliz cansa... dá cá uma soneira...

2 comentários:

  1. O mais triste é que isto não é ficção! Excepto, talvez, as coconettes de couchon em caminha de pommes de terre.

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  2. 3º Caralhau a Contar do fim da fila do Centro de Saude14 de maio de 2009 às 01:19

    Acho que as pessoas pela matina não tomam comprimidos, mas ligam a Tv e deparam se com uma programação de excelência, comandada pelo Goucha, pela Fatuxa e não esquecer a bruxinha Maya. A pedrada e tal que acabamos por tomar algo para as dores de cabeça e para o enjoo matinal (estarei grávido? Naaaa homens grávidos? Andarei a ler muito a Maria? Que dizem as cartas hoje? Estarei ainda sobre o efeito do álcool?).
    Só de pensar que durante o resto do dia a coisa vai piorar….Portugal no Coração? …ou será no caixote? Ai meu Deus que mocaaaaa……comprimidos com álcool não!!!! Será melhor um Imodium rápido?
    Mas programações televisivas a parte, as pessoas que recorrem a fármacos para aliviar as suas tensões, podiam fazer tricô, macramé ou mesmo o pino! Esta sim uma hipótese verdadeiramente saudável do ponto de vista físico…Mas que interessa se não temos dinheiro para a renda e vamos ser despejados ou se passamos fome para pagar a prestação daquela carocha ridícula que está estacionada ali em baixo (ainda o chamam de “Esperto” mas quem o compra e bem burrinho…só o dinheirão que custa dá para pagar horas infinitas de estacionamento com outra viatura qualquer), a nossa filha apanhou uma doença venérea qualquer pois está grávida do rapaz que trabalha na mercearia…que tem mais 20 anos e ela é menor (também tem só metro e meio) …. Comprimidos para quê????
    Mau mesmo, são as novelas que tenho de gramar logo ao lanche, ao jantar …depois do jantar ……antes de deitar …a dormirrrr!!!!! AHHHHHH Novelas em todas as línguas e mais algumas, onde já se viu necessitar de tradutor para entender o português praticado a 6000km daqui????? …vou tomar de tudo o que encontrar só por via das dúvidas……Não, vou até Fátima …não tenho dinheiro e vou a pé…digo que é promessa…para voltar digo a cruz vermelha que estou muito mal e eles trazem me….espera vou mas é abrir um negocio por lá…afinal eles são o maior centro comercial da zona centro…ou do país … quais Allegro….vou enganar o próximo…depois vou pedir perdão ali mesmo ao lado….a beata da minha mãe fazia assim …deve resultar comigo…ai…acho que estou a enlouquecer….ao ponto que cheguei…xanax …já nada faz…já sei vou para o centro de saúde e espero 3 dias numa fila só para saber que não tenho consulta….AHHHHH…suicídio????? Não…deve doer……vou tomar um Lorenin….fico todo sujinho ….mas muito mais aliviado.

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